Microbiota intestinal é, por definição, o conjunto de microrganismos (não só bactérias) que povoam o trato gastrointestinal (TGI) humano e que, em condições normais, não nos causam doenças.
E esses organismos não estão ali à toa. Já se sabe, por exemplo, que eles ajudam na digestão de alguns alimentos (como alguns polissacarídeos que não digerimos), produzem vitaminas e protegem o TGI contra colonização por agentes agressores. O que não se sabia era que suas funções são bem mais amplas que essas.
O surgimento da microbiota começa logo após o nascimento, predominantemente proveniente da mãe. Existem diferenças nos microrganismos portados por crianças que nascem de parto normal e as que nascem de parto cesáreo, e já é bem sabido que elas apresentam perfis imunológicos diferentes.
A microbiota também varia entre adultos e idosos, sendo claramente observada uma composição diferente entre aqueles considerados saudáveis e os que envelhecem doentes.
Devo tomar
#probióticos?
Tenho incluído com frequência o uso de probióticos em comprimidos no tratamento de pacientes com acne, rosácea, dermatite atópica e outras alterações inflamatórias.
Nos últimos anos tem saído muitos estudos sobre uso dos probióticos.
Os probióticos são microorganismos vivos que estimulam a proliferação de bactérias que nos auxiliarão na prevenção e no tratamento de possíveis alterações da nossa flora bacteriana. Alem de contribuir para saúde da pele e funcionamento adequado do nosso organismo.
O objetivo é restaurar o microbioma cutâneo e contribuir para o reforço da barreira de defesa da pele, hidratação e proteção.
Microbioma X Pele
Nossa pele é habitada por milhares de bactérias, fungos e vírus que formam o chamado microbioma – cuja principal função é proteger nosso organismo de doenças e outros problemas como ressecamento e hipersensibilidade. Esse ecossistema cutâneo é formado por pequenos organismos que desenvolvem uma espécie de barreira de proteção, mantendo o pH da pele em equilíbrio e prevenindo o surgimento de germes patogênicos.
Esses microrganismos são chamados de comensais, ou seja, que vivem associados a outro organismo, mas sem prejudicá-lo. Por isso é tão importante cuidar do microbioma da pele, que pode ser afetado por má alimentação, maus hábitos de higiene, estresse emocional, tabagismo, uso de cosméticos, sabonetes e produtos que removem essas bactérias boas ou causam algum tipo de reação alérgica. Quando ele é afetado, as bactérias e fungos “ruins” podem se instalar e causar infecções, por exemplo.
Mas como saber se seu microbioma está equilibrado? Alterações no microbioma trazem efeitos negativos e que logo são percebidos. A pele fica mais sensível, ressecada, irritada e suscetível a crises e episódios de psoríase, dermatite atópica e acne. Se isso estiver acontecendo com você, o primeiro passo é consultar um dermatologista e o segundo é providenciar mudanças no estilo de vida e nos hábitos alimentares. São mudanças que exigem um pouco de disciplina, mas trazem inúmeras recompensas. Saiba mais sobre algumas dessas medidas:
– Prefira banhos mornos e rápidos, usando sabonetes que mantenham a hidratação e o pH da pele;
– Hidratação sempre, pois assim sua pele se torna habitat favorável a microrganismos bons;
– Se você já tiver alguma predisposição, lance mão de hidratantes com ativos prebióticos que favorecem as bactérias boas do microbioma;
– Evite cosméticos agressivos para a pele, como aqueles com álcool ou com grande poder bactericida;
– As mudanças no estilo de vida incluem desde uma alimentação balanceada e a prática de atividades físicas até um acompanhamento psicológico para o controle do estresse.
Aquela ideia de que os germes precisam ser combatidos para que o mundo seja cada vez mais higiênico e estéril é obsoleta. Nós também precisamos deles para mantermos a saúde
Microbioma X Transtornos psiquiátricos
As próprias bactérias intestinais podem produzir substâncias como serotonina e GABA que são absorvidas em maior ou menor proporção.
A serotonina (5-HT), por exemplo, está envolvida em várias funções orgânicas desde cerebrais a cardiovasculares e agregação plaquetária. E sua influência em transtornos neuropsiquátricos, incluindo a depressão, já é bem conhecida.
Além de produzi-la, a microbiota intestinal consegue extrair dos alimentos ou produzir seu precursor: o triptofano (que poderia, por sua vez, ser usado no sistema nervoso para produção de 5-HT). Essas e outras evidências começaram a traçar um paralelo entre a microbiota e alguns transtornos psiquiátricos, o que vem sendo muito estudado atualmente.
Outro exemplo é a interferência no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), responsável pela secreção de corticosteroides para a resposta corporal ao estresse.
Camundongos completamente livres de bactérias apresentam uma reação fisiológica desproporcional e exagerada ao estresse, da mesma forma que têm dificuldade em “desligar” essa reação uma vez que o estressor foi retirado.
O estudo da microbiota e sua relação com o corpo humano é bem promissor e está evoluindo como uma nova ferramenta para manejo de diversas doenças crônicas. Daí a importância de passarmos a entender do assunto e aguardar mais estudos a respeito do assunto tão amplo.